As vezes tenho a impressão
de que a vida precisa ser decifrada. Quem sabe se o que vem
diferente do que a gente espera, seja o que precisa mesmo vir, mesmo contra a
nossa vontade.
O mundo não faz as nossas vontades, e temos que aceitar sem
bater o pé, pois quando batemos o pé ficamos ainda mais machucados.
As vezes tenho a impressão
de que os acontecimentos não são aquela primeira visão que a gente vê e sente.
Podem carregar uma mensagem oculta, se decifrarmos, será para o nosso bem.
Aquela pessoa que nos contrariou, ao invés de ser um carrasco tentando
nos derrubar, pode ser que seja um anjo, um cordeiro em pele de lobo, nos
ensinando que ser contrariado é algo possível de suportar, que da sim para
sentir o desconforto emocional sem traumas, e depois deixar passar, deixar ir, ou
reciclar, sem sentir-se tão ferido e magoado como de costume.
O costume é
sempre sentir-se magoado, rejeitado, desprezado, desiludido, tenho a impressão que
seria muito bom se mudássemos esse costume.
Se um anjo viesse vestido de anjo da forma como conhecemos, com aquelas
lindas asas e rosto angelical, ficaríamos
contrariados se ele fosse rigoroso conosco, ou nos provocasse ao ponto de expormos nossa
ira, nosso descontentamento. Até explodirmos.
Quando a gente explode o desequilíbrio
se instala, dizemos e fazemos coisas que em equilíbrio não falaríamos, depois que
a poeira baixa, a gente se arrepende, e quer voltar o tempo para fazer tudo
bonitinho, para provar que sabemos resolver tudo com parcimônia, ou ao
contrario, ficamos nos justificando como certos e o outro como errado, e contando
com o aval dos mais íntimos, para termos
a aprovação para nossa estupidez. Muitos vão te dar o aval, só pra não te
contrariar.
Talvez não haja nada mais estúpido do que pensar primeiro em si mesmo
quando se vive em grupo. Quando fazemos parte de uma família, privilegiar-se pode
ser pura insensatez e muita vontade de quebrar a cara, pode ser também falta de
humildade, que não tem nada a ver com humilhação.
Humildade é ser simples, é
ter o coração maior do que a boca. É reconhecer o merecimento dos outros.
Ser simples de coração é nivelar-se conforme a altura da própria bondade,
da própria compreensão.
Lisie Silva.