O melhor presente

Hoje o passado tentou me alcançar. Veio com aquele jeitinho tão familiar, de quem tem medo do escuro e procura um colo pra se aconchegar. Eu li em seus pensamentos, sua má intenção em me resgatar.

Sorrateiramente chegava, com aquele aroma peculiar de flores que já murcharam, de jardins que ressecaram, que tantas vezes eu senti, quando minhas luzes se apagaram.

Quantas vezes o passado me resgatou para me mostrar que o meu caminho seria o mais difícil. Que não haveria recompensas, somente sacrifícios. Que eu não teria direito ao que era meu por mérito e por direito.

Desta vez, eu não quis revê-lo. Desta vez não senti a menor vontade de re- senti-lo. Desta vez não permiti que o passado me prendesse no vazio.

Mesmo eu sendo o resultado de todos os outonos e todas as primaveras que atravessei, mesmo assim, não quero mais lembrar, que no passado eu não acreditei em mim. Não investi em mim. Não libertei o meu grito.

Não quero lembrar do tempo que perdi sentindo medo de me arriscar na vida, por que os olhos do mundo me olhavam, e me faziam sentir vergonha por não conseguir realizar as metas que eu mesma estabelecia para mim. Sentia timidez em avançar, pois todo passo que eu queria dar, o passado me resgatava e me prendia.

Mas hoje, eu acredito que estou crescendo, que estou dando um salto bem alto no tempo, que não mais me deixo acorrentar, por lembranças de tudo o que eu não realizei no tempo que tinha para realizar.  

Hoje eu estou quebrando as correntes com o passado, e o meu coração esta no presente, meus olhos querem ver o futuro.  Hoje eu acredito que posso viver sem medo, e que tenho capacidade para encarar o mundo de frente. Posso errar, posso acertar, sem sentir vergonha dos olhos do mundo.

Pela primeira vez, eu me resgato do passado, e deixo o passado assustado com minha atitude, tão assustado que fugiu de mim, e voltou rapidamente para o seu lugar.

Eu sorri confiante, para o futuro, e pensei: Este é o meu melhor presente.

Autoria: Lisie Silva